segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ei, você aí! - Sessão Recuerdos IV

(publicado em setembro de 2002)

Preceito básico dos mandamentos da baixaria, nada é feito por boa vontade ou má intenção: tudo deve render grana.

Nos últimos vinte meses, faliram nos Estados Unidos quase 400 sociedades anônimas (incluindo WorldCom, Enron e US Airways), com dívidas de mais de US$250 bi. Somando à "marcação no caderninho" da Argentina, e ao que poderia ser uma moratória brasileira, os bancos estadunidenses teriam de arcar com um bucho vazio do volume de mais de US$950 bilhões. Uma esmola.

Surge então um pacote do FMI para o Brasil, que impressiona pela rapidez e vultosidade. O empréstimo feito para "acalmar o mercado" e em prol da "estabilidade econômica", cobrirá parte dos vencimentos das dívidas brasileiras com os tais bancos estrangeiros (se não renegociadas, US$32 bilhões em 2002 e US$25 bilhões em 2003). Uma transferência da dívida.

Com a notícia, as ações dos maiores bancos estadunidenses acresceram em valor de mercado uma solapada de muitos bilhões de dólares a mais que a do empréstimo feito pelo FMI. A cota dos EUA no empréstimo do Fundo, de 18%, deverá ser repassada à instituição financeira em até um ano e meio.

Com os ganhos dos bancos nas bolsas dos EUA garantidos, pode-se voltar à especulação de praxe: logo após o acordo, a agência bancária Morgan Stanley, que no final de abril rebaixou a recomendação do Brasil citando o "fator Lula", rebaixou então as perspectivas do câmbio brasileiro, indicando uma indisposição dos bancos estrangeiros em reabrir suas linhas de crédito para o Brasil. Com isso, vão para o céu as taxas do risco-Brasil, que servem para trilhar os aumentos dos juros justamente do pagamento da dívida externa (arriscou de calote, garante nos juros).

Lembrando que bancos como Citigroup e FleetBoston (dois dos maiores beneficiados com o acordo com o FMI), são alguns dos grandes financiadores dos republicanos em campanhas eleitorais. Os mesmos republicanos que discursam tradicionalmente pela não intervenção no mercado em "auxílio" aos países emergentes.

Para piorar a situação de forma insuportável, o preço da cerveja ultrapassa a barreira dos R$2,00 por garrafa, forçando o pebenista comum a beber pinga no verão.

Puta que o pariu.

(publicado em setembro de 2002)

P.S.: No início de 2009, a empresa supracitada Citigroup anunciou a divisão da companhia em duas firmas separadas, Citicorp e Citi Holdings, após divulgar um prejuízo líquido de US$ 18,7 bilhões em 2009.

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