"Uau, hoje eu vou é bombar na pista!"
Um sujeito que está pra nascer no Haiti tem de encarar a seguinte situação: uma taxa de mortalidade infantil superior a 80 por mil; taxa de analfabetismo de 50% na cidade e 70% no campo; falta de trabalho para 70% da população economicamente ativa, e uma expectativa de vida que não passa dos 50 anos.
Eis que surge a Organização das Nações Unidas (ONU) e o seu plano para o país. Suas tropas, chamadas de MINUSTAH, (Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti), contam com integrantes de 40 países. As tropas de "paz" (segundo a grande imprensa) e de "estabilização do Haiti" (segundo a própria ONU), iniciaram suas operações após um golpe contra o então presidente eleito* Jean-Bertrand Aristide, em 2004, por um conjunto de opositores e diplomatas estrangeiros. Um governo imposto organizou eleições que deram a vitória a René Preval.
O novo presidente, René Preval, aliás, foi o candidato que defendeu o estabelecimento da missão da MINUSTAH, financiada pela ONU (ainda que nenhuma autoridade legítima original tenha requisitado tal intervenção). Em contrapartida, a MINUSTAH executa operações de repressão política, como as relacionadas a protestos populares pela promulgação de uma nova lei de salário mínimo, votada pelo Parlamento haitiano, mas não aceita pelo governo de Preval.
De acordo com organizações locais de direitos humanos, a MINUSTAH, que atua sob o comando de militares brasileiros, tem um vasto currículo de violência, repressão política, chacinas, tortura, estupros, entre outras denúncias. Investigações da ONU confirmam os fatos mas, segundo a mesma ONU, o Haiti não tem o direito de julgar nenhum militar estrangeiro, por mais que tenha cometido crimes de lesa humanidade, de acordo com o convênio da Resolução 545, que permitiu a entrada das tropas em 1° de junho de 2004. Quaisquer séries de denúncias de violações de direitos humanos permanecerão impunes.
De acordo com o dirigente do Comitê Democrático Haitiano, Henry Boisrolin, em entrevista à Agência Carta Maior publicada no dia 2 de agosto, "Isso tudo vem ocorrendo sob um marco de silêncio generalizado em nível informativo. O Haiti não conta nas matérias dos jornais e muito menos nas telas das televisões."
Ciente disso, o Partido da Baixaria Nacional, ao tomar o poder, e em prol da entrada das forças armadas brasileiras nas paradas de sucesso, retirará suas tropas do Haiti e comandará uma nova investida armada: a Glamourous Military Popstar Operation, agora sobre Hollywood, nos Estados Unidos. A operação pebenista sequestrará celebridades, definirá as orientações da indústria do entretenimento, pedirá toalhas brancas, estrelará
blockbusters, usará correntes de ouro, gravará um disco de música ruim com algum
rapper de renome mundial, exigirá o nome de Embair Furtado gravado em ouro na calçada da fama, será indicado para o Oscar de melhor fígado, manterá o nariz empinado e mandará beijos aos fãs.
Tal medida, além de retirar os militares do Haiti, transformará as forças armadas brasileiras em uma
boyband de fama internacional, com videoclipes na CNN, MTV, ABC, OnetwoThree, UandM, lançando os milicos do nosso país varonil ao mundo das celebridades visadas pelos paparazzi mais descolados do mundo pop. "Toda essa putaria e ninguém fala nada? Glamourous Military Popstar Operation JÁ!!! Uma invasão militar em solo estadunidense finalmente nos posicionará sob os holofotes. Ah, que eu ainda vou gravar um filme com a Paris Hilton...", declarou o empolgado marechal pebenista, enquanto ajeitava o penteado e retocava a maquiagem.
Henry Boisrolin também relatou: "é preciso ver, por exemplo, em Porto Príncipe, em alguns dos bairros mais calmos, como à noite (porque não há praticamente vida noturna no Haiti, não há luz nem os serviços que existem em outros países) se vê um contínuo desfile de carros das Nações Unidas à frente dos melhores bares e restaurantes, gastando muitos dólares, enquanto do lado de fora o povo dorme nas ruas. /.../ Muitos destes invasores vêm ao Haiti pelo pagamento, ganham milhares de dólares sem gastar absolutamente nada. Após seis ou sete meses, voltam a seus respectivos países com uma boa quantidade de dinheiro na mão."
Embair Furtado já está redigindo o contrato de sua nova superprodução hollywoodiana adaptada pela baixaria. "Falta o Ban Ki-Moon assinar. Além de render grana, as operações militares baixaristas têm um
lifestyle muito mais
cool..."
* Eleito?
Aristide, sacerdote católico adepto da Teologia da Libertação, já havia vencido as primeiras eleições livres do Haiti, em 1990. Derrotou o candidato apoiado pelos Estados Unidos, Mark Bean, membro do Banco Mundial, que levou só 14% dos votos e perdeu por larga margem. Depois do golpe militar apoiado pelo Tio Sam, Aristide retornou ao governo em 1994, agora com o apoio do governo de Bill Clinton, mas sob exigência da implementação do regime proposto por Mark Bean, quatro anos antes, que abriria o país ao controle da economia por parte de empresas, agências e instituições financeiras dos Estados Unidos, acima do controle governamental local (vide Iraque). Eleito novamente em 2001, já havia aceitado um plano que previa ampla limitação de seus poderes até o fim do mandato, a realização de eleições, a criação de um conselho de três pessoas (uma indicada pelo presidente, outra pela oposição, outra pela comunidade internacional) para nomear um novo primeiro-ministro — neutro e independente — e de um novo governo. A oposição rejeitou o plano e apoiou mais um golpe.
(Risos em off da platéia)